segunda-feira, 12 de maio de 2014

MUSEU CARLOS MACHADO - LARGO TEMPO - EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA - COMISSÁRIO: JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE

                        
Largo Tempo
Domingo, Dia 18 de Maio de 2014 a Domingo, Dia 14 de Setembro de 2014

 
                                   
 
O Museu Carlos Machado assinala o dia Internacional dos Museus, em 2014, com a inauguração da exposição temporária “Largo Tempo”, comissariada por João Miguel Fernandes Jorge.
A exposição resulta do olhar de João Miguel Fernandes Jorge sobre as coleções do Museu, principal acervo para a sua seleção de peças, às quais juntou obras provenientes da coleção Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas dos Açores e desenhos de Francisco Arruda Furtado, pertencentes ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência.

“Coleções criam conexões” é a temática escolhida pelo ICOM para em 2014 marcar as comemorações do dia Internacional dos Museus. No Museu Carlos Machado, e através da exposição Largo Tempo, essas relações estabelecem-se: entre obras, entre contextos, entre culturas e, claro, entre pessoas.

Nas palavras do Comissário:

“Uma exposição não passa de um olhar, e um olhar não vai além de um sentimento sobre o mundo, e o mundo não guarda senão um respirar de vida – da vida de todos nós. Largo tempo que brilha desde longe e que se desprende das obras escolhidas como uma poalha de neblina que chega até ao presente. Nenhuma obra está a mais – nem a humilde tigela «sopeira», barro cozido vidrado e pintado, da Cerâmica da Lagoa nem o festivo «capacho» de folha de milho tingida nem a singela Azorina vidalii, «Vidália», [Herbário Flora azorica, Francisco Afonso Chaves]. Nenhuma obra é a primeira – nem uma «Senhora da Rosa», plena de serenidade, esculpida em pedra de ançã [séc. XVI] nem a nobreza hierática da «Cadeira de Chefe Tchokwe» [madeira escurecida e pele, Angola Oriental, séc. XIX] nem a verticalidade sombria da escultura «Neste frio em que me deixaste», de Rui Chafes [2008] nem o fogaréu lumínico de «Lucerna» (díptico), óleo sobre tela, de José Loureiro [2011]; tão pouco o óleo sobre tela «Salomé», de autor desconhecido, do séc. XVIII – belíssima e arrebatada Salomé – é a obra primeira. Qualquer poderá ser. Isso sempre dependerá da eleição que num dado momento faz aquele que vê.
(…) O largo tempo que medeia entre o séc. XVI e os anos 10 do XXI é uma longa extensão que a cada instante nos abandona, nos engana, nos recusa, plena de signos de aventura, de referências, de incógnitas que são pontos de futuro dentro do seu passado e para além futuro, de evocações e sensorialidades, de claro escuro que, como um foco, surge e logo se extingue sem fazer ruído. É nesta quase efemeridade (a qual percorre a etnografia, a história natural, a arte sacra, a arte contemporânea, o mobiliário, a arte africana) que se constrói a mobilidade permanente deste largo tempo. Essas múltiplas vertentes são a sua matéria primeira. A matéria segunda – e quase direi tão animada quanto a primeira – é o eu e o ser eu de cada um, que por entre este largo tempo em confiança e também em desconfiança – que é sempre fundamento seguro – se deixa conduzir pelo fio condutor que ao redor se vai tecendo. Ou que, de um modo mais provável, e bem mais desejável, o eu visitante de cada tempo presente vai convertendo a si dos tempos outros que lhe vão sendo apresentados (…)”

João Miguel Fernandes Jorge

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