Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães - MAMAM no Pátio - Recife, Brasil
Julho 2014
Curadoria: Beth da Matta e Joana D arc
ENCONTROS
ENTRE A FORÇA E DELICADEZA
Saber orientar-se numa cidade não significa muito. No entanto, perder-se numa cidade, como alguém se perde numa floresta, requer instrução. Nesse caso, o nome das ruas deve soar para aquele que se perde como o estalar do graveto seco ao ser pisado, e as vielas do centro da cidade devem refletir as horas do dia tão nitidamente como um desfiladeiro. (W.Benjamin)
A
artista Catarina Branco é nascida na ilha de São Miguel nos Açores, onde vive e
trabalha. Em residência artística, a convite do MAMAM na cidade do Recife,
acompanhou abismada a violenta desocupação do movimento OcupEstelita e seus
desdobramentos. No cotidiano, com um olhar estrangeiro aberto para o encontro
com a cidade, foi atravessada pelo rítmo acelerado, confuso, caótico do lugar.
Capturada pela arquitetura dos edifícios e pelas maneiras de fazer da artesania
local presente nos espaços da casa e no comércio do entorno..
Atenta
a tantas imagens, signos, sons, espaços labirínticos – as ruas, as igrejas
barrocas e o próprio espaço expositivo do Mamam/Pátio – criou site specif com
trabalhos orgânicos, lúdicos, que operam com conceitos e maneiras de fazer
universais e propõem a possibilidade de reinvetarmos nosso cotidiano por meio
de construções de teias e redes entrelaçadas pela delicadeza do toque, do gesto
e dos encontros. Como viver junto? Novamente, essa questão proposta por Roland
Barthes, vem povoar nossas existências. "É preciso ascender à luz nos
tempos da delicadeza, exposição que apresenta parte dessa experiência
vivenciada pela artista, desencadeia reflexões críticas ao projeto
civilizatório que estamos vivendo.
"Com
extrema sensibilidade a artista escolhe o material a ser utilizado, a forma que
estrutura os módulos, que se repetem, e, os conceitos que emanam do seu
trabalho. Formada em pintura pela Escola de Belas Artes em Lisboa a artista
utiliza o papel como meio de expressão. O papel – recorrente em sua poética -
deixa de ser apenas uma superfície na qual o trabalho será lançado, mero
suporte para o desenho, pintura e ou gravura. Aqui o material ganha autonomia de
expressão: sua estrutura pode estruturar a obra.
"Nas
duas instalações aqui presentes, seja a denominada Capacho, da parede ou
Quando a força encontra a delicadeza, do chão, parece-nos inadequado o
uso da expressão “suporte” em relação ao papel. Na arte, a matéria constitui
sempre parte integrante da forma expressiva. Forma e conteúdo são equivalentes.
Ou seja, o conteúdo está incorporado na forma expressiva.
"A
instalação Capacho surgiu do seu olhar sobre a permanente e ancestral
maneira de fazer dos artesãos que produzem cestarias e tapeçarias vistas aqui e
além mar, por meio da técnica do entrelaçamento. O jogo do entrelaçar as tiras
de papel que compõem a estrutura do “tecido” se junta à composição cromática
presente em cada um dos módulos que não se repetem no cromatismo, mas sim na
forma. O título da obra, segundo a artista, propositalmente está relacionado de
maneira pejorativa, às práticas sociais que se referem a “passar por cima,
pisar sem qualquer respeito ou delicadeza pelo que já existe,destruindo teias
históricas e sua poética, desrespeitando o indivíduo que ali habita, impondo
uma força bruta”.
"Quando
a Força Encontra a delicadeza em sua forma orgânica se insinua escapulir do
espaço expositivo buscando a rua como lugar de existência. A obra ganha
potência quando chama a nossa atenção para o abandono “histórico” com os
espaços públicos. O desejo é levar para a cidade, com seus monumentos
abandonados, ruínas a céu aberto, uma possibilidade de expansão da delicadeza,
de reorganização da sociabilidade, onde cada um de nós possamos ser criadores.
A construção de uma rede cujo elo é a sensibilidade.
"Com
base nessa ideia a artista concebeu uma ação que se constitui na elaboração de
um Manifesto poético. Uma caixa que se desloca ocupando outros espaços
da cidade, contendo em seu interior materiais e um manual orientador para a
produção de módulos vazados que quando justapostos produzem uma rede.
Beth
da Matta e Joana D arc
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