Perspectiva da Galeria Fonseca Macedo - Exposição colectiva - Atritos
Perspectiva da Galeria Fonseca Macedo - Exposição colectiva - Atritos
Araçá - pintura/desenho sobre madeira com motor/dimensões variáveis/peça rotativa
Fundo Profundo
Acrílico sobre tela
150X150
2006
O vento agita as sombras numa tarde radiosa de sol
Acrílico sobre tela
150X150
2006
aTRitos
Desafiar um artista a um diálogo plástico com outro é sempre uma forma de estimular visões diferentes sobre o seu próprio trabalho. A arte contemporânea está repleta destes exemplos. São singularidades que se dispõem a uma união de forças.
Catarina Castelo Branco(1974), Renata Correia Botelho(1977) e Sofia Medeiros(1975) apresentam nesta exposição essa vontade de cruzar caminhos criativos, mantendo a individualidade necessária de uma proveitosa conversa. Os temas que nos revelam são singularmente femininos: a alusão à dimensão portátil da miniatura( os Amantes Portáteis de Sofia, Pieces of Me de Catarina e a contenção das palavras de Renata); a ideia de memória (todos os trabalhos são espelho de vivências pessoais); a intimidade do segredo ligado à ideia de caixa ( no caso de Sofia explícitamente na referência à Caixa de Pandora); a importância do pormenor (expressa na fragmentação) e, finalmente a carga poética da Natureza que se liga com o local onde nasceram e vivem, a eterna magnitude vulcânica e arrebatadora dos Açores, que se expressa nas alusões atmosféricas e no doce Araçá de Catarina e especialmente na poesia de Renata que lembra a ancestral poesia haiku*, concebida como se fosse água a cair, fluxo energético e emocional do pensamento. Simplicidade da vida que se espelha na depuração da escultura de Sofia.
Estes são apenas alguns pontos comuns deste diálogo que se podem reunir, desmanchar e reconstruir. Mas este será, apenas e como deve ser, um ponto de vista de ligação harmoniosa de conjunto de obras. O título da exposição sugere outro: o aTRIto. No entanto, e apesar da dureza da palavra e daquilo que evoca no plano conflitual, lembramo-nos muitas vezes que é do confronto que surgem muitas vezes novos mundos ou um diferente entendimento sobre aqueles que estão criados. É sempre um processo de encontro, com menos ou mais faísca....
As exposições colectivas têm sempre esta imensa vantagem de colocar à disposição do observador mundos que podem ser paralelos e que estabelecem diálogos invisíveis entre si e na mente de quem os observa. A convivência entre as pessoas apresenta as mesmas características: a nossa vida e o nosso percurso é muitas vezes transformado de Outro, ou pelos outros. É um processo verdadeiramente mágico, alquímico, e do qual todos tiramos lições verdadeiras.
A poesia haiku é uma forma de poesia japonesa que foi popularizada por Bashô Matsuo (1644-1694). A sua principal característica é a captação do instantâneo, registando, enquadrando, evocando e emocionando. A ligação semântica terá sempre de ser feita pelo leitor. É uma poesia breve, depurada, bela, simples e fluente, apresentando-se como uma reacção minimalista à crescente experiência humana do caos. Pressupõe uma relação entre o particular e o geral, entre o mais individualmente percebido e o ritmo cósmico da natureza, entre a efemeridade da sensação e o eco que esta pode despertar na sensibilidade e na memória, promovendo uma união entre o sujeito e o objecto. No Oriente, o conceito de união entre o homem e a natureza é diferente do Ocidental: o homem é também natureza.
Carla Utra Mendes 2006
Attritions
To Challenge an artist in to a plastic dialogue with another is always a way to stimulate different visions about one’s own work. Contemporary art is full of such examples. There is an organic strength in these peculiarities.
Catarina Castelo Branco (1974), Renata Correia Botelho (1977) and Sofia Medeiros (1975) introduce in this exhibition the will to cross creative paths, keeping the necessary individuality of a profitable conversation. The themes revealed by the artists are singularly feminine: the allusion to the portable dimension of the miniature (The Portable Lovers by Sofia; Pieces of Me by Catarina and the contention of words by Renata); the idea of memory (all the works are the result of personal experiences); the secrecy’s intimacy bind to the general concept of a box (Pandora’s Box explicitly referred by Sofia); the detail’s significance (expressed in fragmentation) and finally, nature’s poetic weight connected to the artists’ homeland and the place they live in: the eternal and ravishing volcanic magnitude of The Azores stated in the atmospheric references, in Catarina’s sweet Brazilian Guava and mainly in Renata’s poetry, which recollects the ancestral Haiku¹ writing, conceived as if it was water falling, mind’s emotional and energetic flow. The simplicity of life mirrored in Sofia’s sculptural depuration.
These are some of the common topics in this dialogue, and they can all be reunited, undone and restored. This will be, nevertheless, a point of view in which the works will harmonically meet. The exhibition’s title suggests another theme: the attrition. However, and in spite the word’s rudeness and what it evokes on a conflict level, one must bear in mind that confrontation often brings up new worlds, or a new understanding about those who were already created. It is always a meeting process, sometimes involving some sparks...
Collective exhibitions always have this immense advantage: they set in front of the observer’s eyes places that might be parallel and that establish invisible dialogues among them and in the mind of those who observe them. The intimacy between people has the same characteristics: our life and path are often modified by the other, or by the others. It is a truly magical process, even alchemic, from which we all take genuine lessons.
¹ Haiku poetry is a form of Japanese writing that was popularised by Bashô Matsuo (1644 – 1694). Its main characteristic is the instantaneous captation, recording, framing, evoking and thrilling. The semantic connection must always be performed by the reader. It is a brief poetry, cleansed, beautiful, simple and fluent. It is a minimalist reaction towards the growing chaotic human experience. It presupposes a relation between the particular and the general, moreover, what is individually understood and the cosmic rhythm of nature, the sensation’s ephemeris and the echo that the previous might stir up in the sensibility and memory of someone, promoting, thus, a true combination between subject and object. In the East, the conceptual binding among Man and nature is different from the one adopted in the West: Man is also nature.
Carla Utra Mendes
Tradução - Pedro Castelo Branco
"Catarina Castelo Branco subverte as ideias de escala e de paisagem. Estas não são representações de cenários naturais,são como que maquetes para a representação de uma paisagem artificial. Aqui os modelos não são os modelos para nós intemporais porque existiam antes de nós e continuarão a existir depois de nós, são sim modelos criados por nós a partir daqueles mesmos modelos. Os papéis, as relvas artificiais ou as imagens reflectidas revestem estas superfícies como revestem as paredes dos espaços que habitamos, iludindo-nos."
Maria José Cavaco
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